Quando o sonho é real demais, acordamos para continuar sonhando.
- Vivian Fróes
- 14 de jul.
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Fantasiamos a maior parte do tempo. É nas dobras da imaginação que encontramos proteção, sentido e narrativa para atravessar o caos. No entanto, de vez em quando nos deparamos com o real. O real de Lacan: aquilo que escapa à simbolização, que desafia a linguagem e que nenhuma fantasia pode conter.
É o real da vida, daquilo que não tem nome e nunca terá. Esse encontro é um choque — um murro no estômago, uma colisão frontal com a brutalidade daquilo que simplesmente é. A fantasia, nesse contexto, é o nosso para-choque. Ela não elimina o impacto, mas amortece a violência. Ajuda-nos a criar distância, a moldar uma narrativa compreensível diante de algo que, por natureza, resiste à compreensão.
Pense nos sonhos como exemplo. O sonho, muitas vezes, age como o guardião do próprio sonho, tal como Freud sugeriu — um espaço onde desejos e medos se enredam em narrativas simbólicas. Em certo sentido, ele é também um para-choque, permitindo que o inconsciente navegue entre o suportável e o insuportável.
Mas e quando o sonho é real demais? Quando a trama construída pelo inconsciente nos entrega algo tão visceral e autêntico que ultrapassa os limites da fantasia? Nesse momento, acordamos. O despertar é o mecanismo de defesa final, uma tentativa de escapar ao impacto direto do real que transbordou o espaço protegido do sonho.
E para quê acordamos? Para continuar sonhando. Para retomar a proteção do simbólico, para reconstruir a fantasia que nos permite seguir adiante, navegando entre o real e o imaginário.
E no final, estamos sonhando ou acordados?
- Vivian Fróes



